Do Rio Douro ao Lago Niassa - Confidências de um Pescador/Marinheiro

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Zé Povinho = Última parte

Ninguém lhe levava a palma

A falta de arte no manejo das operações era largamente compensada pelo racíocinino pronto e pela ginástica do cálculo mental. Eu sou testemunha de tudo isso. Muitas vezes tinha de me vergar à reaçlidade. As contas mais complicadas não tinham para o "Zé" as dificuldades que atormentam a maior parte dos estudantes de hoje, que têm na sua máquina o que não lhes dá o raciocinio tacanho.
Nesses tempos, em que eu continuo a recordar com saudade o tal "Zé Povinho" também era levado por quem podia para o campo da política. Ele, que não percebia patavina do assunto, não podeia dizer que não a quem o levaria a votar. Era o senhorio, um senhor com poder e com grande influência que pedia e a tudo tinha de se prontificar. O "Zé" não sabia o que eram partidos e muito menso o que seria o Partido Progressista ou o Partiido regenerador. mas o senhorio mandava e não havia força para recusar.
Pa amansar a malta e levá-la a depositar na urna o voto conveniente havia sempre promessas tentadoras.Era um costume que não convinha quebrar. no fim da festança havia sempre mesa posta para o "Zé" tirar a barriguinha  de misérias. O voto era devidamente recompensado com arroz de forno, batatas assadas com carneiro, regadinho com o belo tinto, tudo à descrição. Assim se ganhavam votos.
O "Zé Povinho" de antanho, o tal que Bordalo Pinheiro tão fielmente retratou passou para o outro lado da História. O que ficou é outro, actual, moderno, que foi sendo moldado ao gosto de outros Senhores. Agora, com novo estatuto, fala grosso e bota faladura. Aprendeu modas e atira palavrôes de que ele próprio nem sempre sabe o significado. Mas é bonito e até sabe impressionar os auditórios.
Claro que o nosso "Zé Povinho" patego mas cauteloso e finório, inculto mas cheio de experiência da vida, não deixa de responder a tantas artimanhas à sua maneira, com o "manguito" bem conhecido, acompanhado do dito sardónico "Ora Toma"
Como após a tempestade sempre costuma vir a bonança atrevo-me a dizer como o "Seringador" ao terminar o juizo do ano: "DEUS SUPER OMNIA"
BOM ANO a todos se deseja. 

1 comentário:

Piko disse...

Um belo texto, sim senhor!
Quem quiser perceber, está ali tudo!